16.8.16

Assim é

Quando estava grávida, nas minhas duas barrigas, percebia pessoas, muitas pessoas, olhando pra mim com um certo desprezo (cuidadosamente escondido) e dizendo nas entrelinhas uma espécie de "coitada, vai acabar com a carreira" ou vai "atrapalhar a vida profissional" ou ainda, "para uma atriz é mais difícil, muda o corpo, muda tudo". E eu também estava cheia de dúvidas e conflitos (porque ficar grávida não é chegar no paraíso), apesar de ter desejado muito ser mãe. Eu tinha medo de "perder minha liberdade", de não viver mais a vida-lôka que eu tanto gostava, de me afastar dos amigos, de não ser capaz de cuidar, de não ter o dinheiro necessário, tive muito medo de perder oportunidades de trabalho, de viagens, etc, etc, etc. Curiosamente, também vejo o mesmo tipo de desprezo dirigido às mulheres que chegam aos 35, 40 e, por algum motivo ou desejo, não têm filhos. "Coitada, vai ficar sozinha na vida", "nunca vai saber o que é o verdadeiro amor", "não consegue", "deve ter algum problema", e por aí vai. Há cobranças peçonhentas por todo lado. E a vida mudando sempre, com ou sem filhos, porque assim é. A vida passa. Uma coisa eu aprendi: liberdade, a gente cria. E vida, a gente inventa. Tudo é criação.