6.7.10

Em fim

Dias falando sobre o mesmo assunto, a história repetida cem mil vezes, os detalhes, as memórias, o esquecimento, a história recontada e requentada, o que falha, a ficção e a fantasia que se cria sempre que se conta, todas as relações esmiuçadas e as dores sentidas novamente, ressentimentos revelados, mágoas agitadas para o rio voltar a correr.
Na saída do túnel o mesmo buraco e a mesma pergunta e algumas lágrimas e o monólogo que não cessa e o conforto que não vem.
Chegar em casa e tentar organizar os fatos, como se eles ainda existissem. Elaborar listas e preparar o futuro, sem deixar que ele volte a ameaçar, a assustar, a desassossegar.
E tudo isso para entrar na sala de estar e descobrir que ela está vazia, sem móveis, sem quadros na parede, sem espelhos. Apenas algumas fotografias espalhadas pelo chão. A janela está aberta e uma brisa leve e fria desarruma o ambiente. Tudo isso não passa de um sonho, ela pensa. Mas ainda assim, ela sente os pés no chão. E vai até o quarto.
Tira a roupa e procura uma toalha nova para que possa se enxugar depois do banho. Procura aquele olhar. Procura o silêncio perdido. Procura o que está perto e o que está longe. Não sei onde isso vai dar, ela pensa e sorri. Com os cabelos molhados, ela deita na cama e dorme. O corpo já não treme mais, a febre já abaixou e o que restou foi apenas a descoberta.