10.11.16

Comer Paris

Hoje: eu aqui sem imaginar o meu futuro. Querendo escrever o que ainda não sei. Olhando, esperando, pensando. A Torre Eiffel brilhando no meu lado esquerdo, ao longe. Tão clichê. Clichê é uma palavra francesa? Aqui se bebe muito vinho e se come muito bem. O frio me causa um certo desconforto. Estar com outras pessoas o tempo todo também.
Ontem: encontrei amigos. Não conhecia ninguém direito, mas são sempre as mesmas conversas. Sobre os outros.
Amanhã: ele está chegando. Amor, paixão, sexo e Paris. E eu cansada de olhar vitrines e pensar. De ver exposições e pensar. De consumir e pensar. Aproveitar Paris enquanto posso. Comprar Paris, comer Paris. 

16.8.16

Assim é

Quando estava grávida, nas minhas duas barrigas, percebia pessoas, muitas pessoas, olhando pra mim com um certo desprezo (cuidadosamente escondido) e dizendo nas entrelinhas uma espécie de "coitada, vai acabar com a carreira" ou vai "atrapalhar a vida profissional" ou ainda, "para uma atriz é mais difícil, muda o corpo, muda tudo". E eu também estava cheia de dúvidas e conflitos (porque ficar grávida não é chegar no paraíso), apesar de ter desejado muito ser mãe. Eu tinha medo de "perder minha liberdade", de não viver mais a vida-lôka que eu tanto gostava, de me afastar dos amigos, de não ser capaz de cuidar, de não ter o dinheiro necessário, tive muito medo de perder oportunidades de trabalho, de viagens, etc, etc, etc. Curiosamente, também vejo o mesmo tipo de desprezo dirigido às mulheres que chegam aos 35, 40 e, por algum motivo ou desejo, não têm filhos. "Coitada, vai ficar sozinha na vida", "nunca vai saber o que é o verdadeiro amor", "não consegue", "deve ter algum problema", e por aí vai. Há cobranças peçonhentas por todo lado. E a vida mudando sempre, com ou sem filhos, porque assim é. A vida passa. Uma coisa eu aprendi: liberdade, a gente cria. E vida, a gente inventa. Tudo é criação.  

13.7.16

O caso do incêndio com um incenso

- Mamãe, vamos fazer um incêndio?
- O que???
- Aquilo que a gente fez ontem.
- Ah, vamos acender um incenso?
- Sim! Pra casa ficar limpinha.

4.5.16

Corpo solto

Deitada, corpo solto no chão. Camadas do corpo físico - sangue, órgãos, esqueleto. Reconstituir para depois ir tirando. O sangue esparramado no chão, os órgãos saindo do corpo, o esqueleto flutuando. Então os ossos vão se soltando e se perdendo e sobra apenas uma memória. A memória do que já foi.

6.1.16

Sobre a peça 'A Menina do Dedo Torto'

Escrever, atuar, produzir, conversar, escutar, pesquisar, meditar, escarafunchar, sonhar, brincar, criar.
E assim começamos uma peça: ensaio, repetição, criação, ralação, coragem.
Pra mim, fazer teatro é sempre um chamado para aventura. Pra onde eu vou? Não sei. 
É o amor que me leva, não consigo parar. Então eu vou. Algo me chama, eu vou. Ai meu coração, eu vou.
Dolores parte para sua jornada, que é minha também, é de todos nós. 
Se adentrar pelo desconhecido e não temer. 
Seguir o fio do labirinto e não fugir. 
Se perder para atingir o próprio centro.
E finalmente perceber que não estamos sós, pois temos a companhia do mundo inteiro.
Eu vou, eu vou, eu voo...

3.1.16

Resoluções para um Ano Novo

- Achar o lugar do reencontro; 
- Mudar a aparência por dentro; 
- Unir os pontos (cabeça, coração, pé no chão); 
- Viver numa escala maior; 
- Desdefender-se.