14.11.15

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Agora eu sou ativista, feminista, muçulmana, favelada, ecologista, negra, macumbeira, imigrante, homossexual, trans, refugiada, e não vou parar. 
E não é (só) nessas linhas, é na vida vivida. 
O tempo agora é de ação. 
Levantar, ocupar, resistir, dialogar, pensar, agir.
Não há outra escolha.

10.8.15

2.2.15

Mudanças

Você leu, em algum o lugar, aquela frase de Ghandhi e você pensa que quer ser a mudança que você quer ver no mundo. Você reduz drasticamente o seu consumo de carne e só come animais em ocasiões especiais. Você tenta diminuir o lixo que você produz e se frustra o tempo todo porque você consegue muito pouco. Você procura reciclar todo seu lixo. Você conversa com a síndica do seu prédio, você entra no site da Conlurb, você pesquisa em vários sites, você lê sobre o assunto. Você percebe que reciclar seu lixo é bem mais fácil do que você imagina. Você carrega uma sacola dobrável dentro da sua bolsa quando você vai às compras. Você recusa sacos plásticos e embalagens para presentes. Você recusa as segundas vias do cartão e todo o papel que você não ultizará depois. Você usa, na maioria das vezes, fraldas de pano no seu bebê. Você percebe, na prática, que não dá tanto trabalho assim. Você, inclusive, economiza dinheiro usando fraldas de pano no seu bebê. Você não quer mais ter carro, você quer andar a pé, de bicicleta, de transporte público e de taxi. Você não quer mudar para um apartamento maior. Você quer ter cada vez menos coisas, você acha que você já tem demais. Você está enjoada de tantos vestidos, tantos sapatos, tantas bolsas, tantos batons. Você acha que isso deve ser por causa da idade, mas você se dá conta que você já pensava assim aos vinte. Você não quer colocar silicone depois de ter amamentado seus dois filhos. Você se acha gostosa. Você ainda não colocou botox, mesmo já tendo passado dos quarenta. Você pinta seus cabelos brancos com henna. Você ainda não se acha bonita com cabelos brancos. Você detesta ir ao salão de beleza e evita isso a todo custo. Por conta dessas "excentricidades", você ouve sempre os mesmos comentários: Você é "louca", você é "hippie", você é "filósofa", você é "artista". Você não escuta, mas você é chamada de "ecochata". Ou só de chata mesmo. Você deve ser um pouco de tudo isso, você não se importa. Finalmente, você não se sente melhor do que ninguém. Você chora. Você também quer ser amada. Você duvida. Você se irrita com muita frequência. Você perde a paciência, você se arrepende. Você fala demais. Você ainda quer mudar o mundo. Você se acha uma idiota por isso, você sabe que o mundo muda sozinho. Você tem consciência que você é irrelevante para o mundo. Mas você continua tentando. Você gosta de viver.

21.1.15

No set

Fazer um filme é como estar dentro de um outro filme. Tudo parece um sonho. Todas aquelas pessoas ocupadas passando pra lá e pra cá, conversas de pé de ouvido, trilhos, fios. Paredes e portas que dão em lugar nenhum. Um universo inteiro sendo criado e destruído diariamente. Quando estou num set sempre acho que, a qualquer momento, Fellini vai aparecer falando alto, interrompendo a concentração, vai chamar os atores e refazer a cena dez tons acima. Imagino Truffaut sussurrando subitamente no meu ouvido, me lembrando da ilusão de tudo aquilo, me seduzindo e me deixando confusa, porque afinal de contas eu não entendo bem francês. Já vi Bergman algumas vezes levando as mãos à cabeça, como se tudo ali estivesse em desacordo. Desperto desses devaneios rindo de mim mesma e desconfiando ainda mais dessas fronteiras entre ficção e realidade. E mesmo estando ansiosa, nervosa ou simplesmente em pânico com a iminência do "Ação!", me sinto feliz por estar fazendo parte daquele mundo à parte, que muitas vezes é mais intenso que a própria vida.