Mostrando postagens com marcador Notas perdidas num caderninho qualquer. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Notas perdidas num caderninho qualquer. Mostrar todas as postagens

28.1.20

muita mudança 
numa dança muda
uma muda de dança
numa mudança
muitas danças

26.6.19

continuum

a gente não para de morrer desde o momento que nasce a gente não para de nascer até o momento da morte

15.2.19

Notícias de um Brasil

Saia da sua zona de conforto, pare de relativizar o horror, leia qualquer livro de #achillembembe, faça um esforço, mataram mais um garoto negro por nada, semana passada executaram 13 pessoas numa chacina em Santa Tereza, policiais de elite mirando, atirando e matando nas favelas cariocas com aval do governador, uma menina morreu com tiro no peito, isso acontece o tempo todo nas comunidades, pessoas inocentes morrem, ministro da justiça propõe excludente de ilicitude para policiais, pessoas comemoram com alegria mórbida dizendo menos um cpf, isso não é política de segurança, isso é política de extermínio, não negocie o inegociável, isso não é normal. 

21.3.18

Do desencontro

Ela atravessando a rua
Ele atravessou seu pensamento
O sinal abriu 
O taxi passou
O tempo parou
Ela ouviu o grito
Ele chamava o seu nome
Quem iria resgata-la no meio da tarde,
naquela hora em que nunca se sabe o que fazer?
O sinal fechou 
O dia nublou
Ele chamou novamente
Ela não conseguiu responder
Estava sozinha demais para escutar.

21.6.17

Os buracos da eternidade

Queria abrir os buracos quando eu desejasse, mas eles não se abrem quando eu quero, eles não me obedecem, eles não são meus. Eu simplesmente caio neles, na maioria das vezes, quando estou distraída. Faço muito esforço e caio sempre por acaso.

14.6.17

Os passos

Tomo um chá e vou ao cinema. No caminho já sinto a estranheza. Pessoas se movendo em velocidades diferentes, tudo carecendo de sentido. Hoje estou tentando fazer literatura com minha vida e escrevo coisas canalhas. Mas não encontro nada nas palavras, que depois vou ler e achar ridículo.
Por que o filme não começa?
Quero entrar logo num mundo que não é meu. Quero esquecer que minhas costas doem.
Quero ter alguma linearidade. Não viver mais nessas horas vagas, quero ter o que fazer, pra onde ir, quem encontrar.
Os passos são lentos e vem uma vontade estrondosa de empurrar as coisas. Pra depois.
Os próximos passos. Os passos. As próximas horas. As horas.
Todo o mundo fazendo o mesmo. Cavando, sem descanso, e contando com a sorte, com a fé, com o gênio, com os contatos. 
Vou entrar no outro mundo pra ver se acho um respiro para a vida daqui.


20.2.17

Carnaval tem todo ano

Eu digo que não estou animada. 
Que esse ano quero silêncio e sossego. 
Mas basta ouvir um batuque numa esquina qualquer,
que eu já me ofereço toda.

10.11.16

Comer Paris

Hoje: eu aqui sem imaginar o meu futuro. Querendo escrever o que ainda não sei. Olhando, esperando, pensando. A Torre Eiffel brilhando no meu lado esquerdo, ao longe. Tão clichê. Clichê é uma palavra francesa? Aqui se bebe muito vinho e se come muito bem. O frio me causa um certo desconforto. Estar com outras pessoas o tempo todo também.
Ontem: encontrei amigos. Não conhecia ninguém direito, mas são sempre as mesmas conversas. Sobre os outros.
Amanhã: ele está chegando. Amor, paixão, sexo e Paris. E eu cansada de olhar vitrines e pensar. De ver exposições e pensar. De consumir e pensar. Aproveitar Paris enquanto posso. Comprar Paris, comer Paris. 

4.5.16

Corpo solto

Deitada, corpo solto no chão. Camadas do corpo físico - sangue, órgãos, esqueleto. Reconstituir para depois ir tirando. O sangue esparramado no chão, os órgãos saindo do corpo, o esqueleto flutuando. Então os ossos vão se soltando e se perdendo e sobra apenas uma memória. A memória do que já foi.

3.1.16

Resoluções para um Ano Novo

- Achar o lugar do reencontro; 
- Mudar a aparência por dentro; 
- Unir os pontos (cabeça, coração, pé no chão); 
- Viver numa escala maior; 
- Desdefender-se.

2.2.15

Mudanças

Você leu, em algum o lugar, aquela frase de Ghandhi e você pensa que quer ser a mudança que você quer ver no mundo. Você reduz drasticamente o seu consumo de carne e só come animais em ocasiões especiais. Você tenta diminuir o lixo que você produz e se frustra o tempo todo porque você consegue muito pouco. Você procura reciclar todo seu lixo. Você conversa com a síndica do seu prédio, você entra no site da Conlurb, você pesquisa em vários sites, você lê sobre o assunto. Você percebe que reciclar seu lixo é bem mais fácil do que você imagina. Você carrega uma sacola dobrável dentro da sua bolsa quando você vai às compras. Você recusa sacos plásticos e embalagens para presentes. Você recusa as segundas vias do cartão e todo o papel que você não ultizará depois. Você usa, na maioria das vezes, fraldas de pano no seu bebê. Você percebe, na prática, que não dá tanto trabalho assim. Você, inclusive, economiza dinheiro usando fraldas de pano no seu bebê. Você não quer mais ter carro, você quer andar a pé, de bicicleta, de transporte público e de taxi. Você não quer mudar para um apartamento maior. Você quer ter cada vez menos coisas, você acha que você já tem demais. Você está enjoada de tantos vestidos, tantos sapatos, tantas bolsas, tantos batons. Você acha que isso deve ser por causa da idade, mas você se dá conta que você já pensava assim aos vinte. Você não quer colocar silicone depois de ter amamentado seus dois filhos. Você se acha gostosa. Você ainda não colocou botox, mesmo já tendo passado dos quarenta. Você pinta seus cabelos brancos com henna. Você ainda não se acha bonita com cabelos brancos. Você detesta ir ao salão de beleza e evita isso a todo custo. Por conta dessas "excentricidades", você ouve sempre os mesmos comentários: Você é "louca", você é "hippie", você é "filósofa", você é "artista". Você não escuta, mas você é chamada de "ecochata". Ou só de chata mesmo. Você deve ser um pouco de tudo isso, você não se importa. Finalmente, você não se sente melhor do que ninguém. Você chora. Você também quer ser amada. Você duvida. Você se irrita com muita frequência. Você perde a paciência, você se arrepende. Você fala demais. Você ainda quer mudar o mundo. Você se acha uma idiota por isso, você sabe que o mundo muda sozinho. Você tem consciência que você é irrelevante para o mundo. Mas você continua tentando. Você gosta de viver.