22.3.17

de 4 para 5

- Meu amigo Chicão disse que quando a gente tem 4 anos, já tem 5 anos.
- Que história é essa, Sebá?
- Quando a gente já está perto de fazer 5 anos, já tem 5 anos, entendeu?
- Mais ou menos.
- Eu já tenho 5 anos, porque já tem muito tempo que eu tenho 4 anos, entendeu mãe?

20.3.17

Os números e o tempo

- Mãe, vai ser muito rápido até quando eu tiver 100 anos, né?
- Ah, ainda vai demorar muito, Sebá.
- Quando eu tiver 100 anos, você vai ter uns 30. Não, vai ter uns 9. Não! Você já vai ter morrido, né?
- É, aí já vou ter virado estrelinha.
- Não, mãe, mas só vira estrelinha depois que morre.
- É. Tá.
- O número que eu mais gosto é 20. E o que eu menos gosto é 7 e 16.
- Por que, Sebá?
- Porque 20 é mais grande. Mas não é mais grande do que cento.
- Maior.
- O número maior é infinito. (pausa) Mãe, qual o número mais alto? Cem, infinito, cento ou milhão?

20.2.17

Carnaval tem todo ano

Eu digo que não estou animada. 
Que esse ano quero silêncio e sossego. 
Mas basta ouvir um batuque numa esquina qualquer,
que eu já me ofereço toda.

17.2.17

A menor ideia

Mãe - Qual vai ser a historinha hoje?
Ceci- Não tenho a menor ideia.
Sebá- Eu tenho a menor ideia! Deixa que eu escolho.

13.2.17

Pinturar

- Sebá, o que você fez hoje no primeiro dia de aula?
- A gente jogou, desenhou e pinturou.
- Pinturou?
- É mãe, fazer pintura é pin-tu-rar. Não sabia não, é?

10.11.16

Comer Paris

Hoje: eu aqui sem imaginar o meu futuro. Querendo escrever o que ainda não sei. Olhando, esperando, pensando. A Torre Eiffel brilhando no meu lado esquerdo, ao longe. Tão clichê. Clichê é uma palavra francesa? Aqui se bebe muito vinho e se come muito bem. O frio me causa um certo desconforto. Estar com outras pessoas o tempo todo também.
Ontem: encontrei amigos. Não conhecia ninguém direito, mas são sempre as mesmas conversas. Sobre os outros.
Amanhã: ele está chegando. Amor, paixão, sexo e Paris. E eu cansada de olhar vitrines e pensar. De ver exposições e pensar. De consumir e pensar. Aproveitar Paris enquanto posso. Comprar Paris, comer Paris. 

16.8.16

Assim é

Quando estava grávida, nas minhas duas barrigas, percebia pessoas, muitas pessoas, olhando pra mim com um certo desprezo (cuidadosamente escondido) e dizendo nas entrelinhas uma espécie de "coitada, vai acabar com a carreira" ou vai "atrapalhar a vida profissional" ou ainda, "para uma atriz é mais difícil, muda o corpo, muda tudo". E eu também estava cheia de dúvidas e conflitos (porque ficar grávida não é chegar no paraíso), apesar de ter desejado muito ser mãe. Eu tinha medo de "perder minha liberdade", de não viver mais a vida-lôka que eu tanto gostava, de me afastar dos amigos, de não ser capaz de cuidar, de não ter o dinheiro necessário, tive muito medo de perder oportunidades de trabalho, de viagens, etc, etc, etc. Curiosamente, também vejo o mesmo tipo de desprezo dirigido às mulheres que chegam aos 35, 40 e, por algum motivo ou desejo, não têm filhos. "Coitada, vai ficar sozinha na vida", "nunca vai saber o que é o verdadeiro amor", "não consegue", "deve ter algum problema", e por aí vai. Há cobranças peçonhentas por todo lado. E a vida mudando sempre, com ou sem filhos, porque assim é. A vida passa. Uma coisa eu aprendi: liberdade, a gente cria. E vida, a gente inventa. Tudo é criação.