11.8.09

Encenação

Eu queria fazer um espetáculo simples.
Eu queria fazer um espetáculo que falasse diretamente com a platéia.
Eu queria fazer um espetáculo onde ator e personagem se confundissem o tempo todo.
Eu queria fazer um espetáculo que se passasse numa esquina qualquer, uma encruzilhada, um lugar de ninguém.
Eu queria fazer um espetáculo que falasse do passado, fazendo uma ponte com o presente, e falasse do presente, fazendo uma ponte com o futuro.
Eu queria fazer um espetáculo que falasse da desilusão, da solidão, da sensação de estar só, mesmo quando a gente está rodeado de gente.
















Eu queria fazer um espetáculo que eu pudesse ficar no lugar da platéia e a platéia pudesse estar no meu lugar, ao mesmo tempo.
Eu queria fazer um espetáculo que fosse político, poético e existencial.
Eu queria fazer um espetáculo que a platéia saísse do teatro e tivesse vontade de viver.
Eu queria fazer um espetáculo que as pessoas saíssem do teatro e repensassem suas vidas e pudessem mudar tudo em um segundo.
Eu queria fazer um espetáculo para que eu fosse amada, reconhecida, aceita, que eu fosse aplaudida de pé, durante oito minutos.
Eu queria fazer um espetáculo definitivo.
Eu queria fazer um espetáculo contraditório.
Eu queria fazer um espetáculo que a platéia saísse do teatro e não fosse comer pizza.
Eu queria fazer um espetáculo que tivesse uma luz muito forte que quase me cegasse.
Eu queria fazer um espetáculo cheio de erros, todo torto.
Eu queria fazer um espetáculo que fosse ao mesmo tempo apolíneo e dionisíaco.
Eu queria fazer um espetáculo que eu ficasse nua, transparente, que a platéia pudesse se ver através de mim, além de mim.
Eu queria fazer um espetáculo que eu ficasse invisível.















Eu queria fazer um espetáculo que os meus amigos fossem encontrar comigo depois no camarim e falassem a verdade, mas com muito amor.
Eu queria fazer um espetáculo que levasse a platéia as lágrimas.
Eu queria fazer um espetáculo que tivesse uma mulher caída com sangue escorrendo pela boca e as vísceras aparecendo.
Eu queria fazer um espetáculo que acabasse com todo sentimentalismo.
Eu queria fazer um espetáculo que reconstituísse a camada de ozônio, que despoluisse o Rio Tietê e a Baía de Guanabara.
Eu queria fazer um espetáculo que eu ficasse perdida, sem nunca saber como continuar.
Eu queria fazer um espetáculo que não tivesse nem princípio, nem meio, nem fim.
Eu queria fazer um espetáculo que mudasse o curso da história.
Eu queria fazer um espetáculo que eu ficasse muito rica.
Eu queria fazer um espetáculo revolucionário.
Eu queria fazer um espetáculo impossível, que fosse uma ilusão, que não existisse.

















(trecho do espetáculo Desabotoa Minha Gola)

5 comentários:

Paloma Riani disse...

Querida, tenho a sensação de que esse espetáculo já fazemos,de alguma forma, já fazemos.
Parte dele acontece em vida e parte acontecerá em morte.
Acredito sermos esse espetáculo!!!

Marcello disse...

eu queria fazer um espetáculo onde todos os amigos estivessem no palco comigo para que ríssemos muito na coxia, para que chorássemos e comemorássemos juntos, para que fossemos jantar juntos e dançar juntos após o espetáculo (e de preferencia dançar também durante o espetáculo, nem que fosse um pouquinho...), para que, para que pra quê? Só para estar junto assim, ligados pelo Teatro como já estivemos tantas vezes... saudades, Lublin!!! Beijos,
Mars

TEREZA FREIRE disse...

That's my girl!!!
Amei!
Passa lá pra me visitar...
beijos
Tereza

marcosnauta (Marcos Damigo) disse...

Oi Lud,

Linda reflexão!

Adorei seu blog, você mescla a sua arte e a sua vida de uma maneira simples e encantada, faz bem de ler!

Beijo!

untitled disse...

Lindo! Por isso que eu te amo. Cheiro!